Em 1972 -1974 Angola era uma Nação próspera praticamente auto-suficiente em tudo. Tínhamos bons quadros técnicos, serviços de saúde pública e privada, indústrias, agricultura, pescas, minérios, petróleo e diamantes enfim tudo o que uma grande nação poderia ambicionar.
Um sorriso inocente
(foto Net)
Podia-se viajar sem problemas porque a tropa que estava em Angola era mais que suficiente para manter afastados os tais libertadores a soldo das grandes potências e, a prova disso, são as fotografias que podereis ver das minhas viagens ao interior de Angola com a minha família. A viagem que tinha projectado fazer nas próximas férias antes do 25 de Abril seria: Luanda, N'dalatando, Malange, Saurimo, Moxico, Kuito, Huambo, Namíbia, Benguela, Lobito e voltar a Luanda. Infelizmente não passou de um sonho poder voltar a visitar algumas das principais cidades e a beleza da terra que amava e a quem dei os melhores anos da minha vida.
Já não era tão fácil enviar para o exterior o capital das empresas porque havia controle, por isso, havia cada vez mais investimento e a consequente exportação. Havia escolas para todos sem excepção desde o ensino básico até à universidade. Nas repartições públicas os funcionários angolanos pretos e mestiços eram em bem maior número que os brancos. Como em todas as cidades havia os bairros periféricos chamados musseques onde habitavam inclusivamente brancos da classe mais humilde e algumas construções de vários andares como no Prenda onde eu tinha comprado um andar num desses prédios que vedes na fotografia.
Musseque Prenda- Luanda (foto Era Uma vez...Angola, Paulo Salvador)
Alguns comerciantes instalaram-se nesses musseques para maior facilidade de comercialização dos seus produtos junto dos moradores. Foram esses os primeiros a sofrer as represálias e até a morte pelos camaradas assassinos do MPLA. As principais cidades de Angola como Lobito, Benguela, Huambo, Kuito, Lubango, Uige, etc, tinham praticamente o mesmo desenvolvimento de Luanda embora esta fosse a capital. Havia praticamente emprego para todos mesmo para os menos instruídos. No interior de Angola nas povoações mesmo nas mais afastadas cultivavam-se as lavras em paz e colhiam o suficiente para o seu sustento e ainda para trocar ou vender no comerciante mais próximo adquirindo o que necessitavam. Infelizmente, actualmente não o podem fazer porque existem cerca de 18 milhões de minas anti-pessoais espalhadas por todo o lado que fazem milhares de estropeados, segundo estimativas cerca de 30.000.
Existia já uma classe média e média alta de angolanos de todas origens. Poderia dizer-se que Angola era um país rico e se nessa altura lhe fosse dada a independência, tal como foi dada à África do Sul, hoje Angola seria uma das nações mais ricas da costa ocidental de África. Por isso era cobiçada pelas suas riquezas tanto pelos americanos como pelos russos e outros mais.
"Confrontado com 13 anos de guerra colonial e com pressões do Presidente da República, Américo Tomás, Marcello Caetano que sucedera a Salazar, encorajou várias abordagens aos movimentos de libertação ou alguns dos seus dirigente, nos meses que antecederam a revolução. Aparentemente para fazer sair o país do impasse. Exemplo disso era a visita que planeava fazer a Angola no final de Abril de 1974. Dois meses depois de uma longa conversa com o governador geral."
DN, sexta-feira 27/05/2005. Temas do Dia, Bastidores da Política Ultramarina. Marcelllo Caetano admitiu Angola Independente.
Entretanto aconteceu o 25 de Abril e as intenções de Marcello Caetano infelizmente para o povo Angola e para nós, não se chegaram a concretizar.
Marcello tinha planos para a independência de Angola para 1974 (foto DN 27/05/2005)
AS REFORMAS ESTILHAÇAM-SE PERANTE O PROBLEMA COLONIAL
"Com o objectivo de consolidar-se no poder e ampliar a sua base de apoio, Caetano aproveitou as eleições de Outubro de 1969 para consultar a população acerca do problema crucial que o regime enfrentava: a questão colonial. Estas eleições foram realizadas com o propósito de garantir-lhe os apoios necessários: tanto a nível interno, reforçando a sua imagem perante os seus pares da ditadura e legitimando a sua autoridade diante da oposição democrática; e, no âmbito internacional, desanuviando o clima de hostilidade a Portugal, país que cada vez mais sofria críticas em todos os fóruns internacionais. Marcelo Caetano sabia que não iria perder as eleições. O seu prestígio pessoal e, sobretudo, a manipulação do escrutínio garantiam a vitória.
Mas, numa perspectiva história, pode dizer-se que as eleições de 1969 foram um fracasso para Marcelo Caetano. Pois, apesar de muitos dos integrantes das listas da União Nacional serem gente nova, ele teve de integrar nelas declarados inimigos seus que, vinte dias depois de inaugurada a legislatura, provocaram uma votação na Assembleia Nacional a favor da política ultramarina iniciada por Salazar.
Os limites do poder de Marcelo Caetano ficaram claros quando teve de enfrentar a ala mais ortodoxa da ditadura, especialmente por causa das divergências sobre o Ultramar. Para Caetano (assim o disse em Setembro de 1970), a permanência em África justificava-se por causa dos portugueses lá instalados e para fazer face aos compromissos internacionais contraídos pelo Governo. Ainda assim, atreveu-se a assinalar que a independência das colónias não significava a perda da nacionalidade, ideia que os ultras do regime consideravam um sacrilégio, já que, para eles, Portugal, sem as colónias, seria devorado pela Espanha. Nesse contexto, em Dezembro de 1970, o presidente do Governo apresentou na Assembleia Nacional um anteprojecto de Revisão Constitucional, com a intenção de encontrar uma via intermédia entre os deputados liberais e os de extrema-direita e realizar as reformas que considerava necessárias. Deste modo, as modificações que Marcelo Caetano introduziu na Constituição de 1933 diziam respeito à estrutura do Estado. Portugal continuava a ser um país unitário, mas passava a ter regiões autónomas com poderes próprios. O resultado da Revisão Constitucional foi discreto e teve a virtude de não agradar nem à direita nem à esquerda".
http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/041708.html
25 de Abril de 1974
"Aos 25 minutos do dia 25 de Abril, a canção de Zeca Afonso era o sinal para o início do movimento revolucionário militar que poria fim à ditadura. A voz do cantor contestatário significava, para quem sabia, que chegara ao "ponto de não regresso" de uma revolução montada em todos os pormenores. Da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, saíram pouco depois efectivos militares, com destino a Lisboa: dois esquadrões, um auto transportado outro de reconhecimento. A coluna sob o comando do capitão Salgueiro Maia, saiu pelo portão da Parada Chaimite, em frente do Jardim da República.
Os oficiais que permaneceram na unidade, liderados pelo major Costa Ferreira, 38 anos, seis comissões de serviço em África, começaram a tomar as disposições necessárias ao que viria a constituir a retaguarda do movimento. A revolta na Escola Prática de Cavalaria iniciara-se, de facto às 21.30 quando o 2º Comandante da unidade, tenente-coronel Sousa Sanches, posto ao corrente de revolução, recusou participar e foi "desactivado"sem grandes problemas. O coronel Augusto da Fonseca Laje, comandante da E.P.C., ausentara-se para Lisboa, por motivos pessoais.
O major Costa Ferreira, em entrevista ao "Diário de Notícias" revelou que o Movimento das Forças Armadas começou a gizar-se em Setembro. Os contactos entre os oficiais revelaram-se extremamente difíceis, sendo necessário recorrer a vários estratagemas. O movimento esteve para concretizar-se a quando da revolta das Caldas da Rainha "e a Escola prática de Cavalaria de Santarém não colaborou apenas por terem surgido dificuldades de ocasião". "No entanto não estava posta de parte a possibilidade do movimento do movimento vir a concretizar-se. Apenas se pretendia encontrar o momento oportuno para isso" – disse, ao redactor do Diário de Notícias, aquele oficial.
O primeiro sinal, "segundo o que estava idealizado" deu-o o locutor dos Emissores Associados de Lisboa, ao anunciar "Faltam 5 minutos para as 23 horas, seguindo-se a canção "E depois do Adeus", interpretada por Paulo de Carvalho. Quando a Rádio Renascença transmitiu a canção de Zeca Afonso, tanto a escola Prática de Cavalaria como em 29 outras unidades militares que apoiavam o Movimento, em toda a Metrópole, se desencadeou a revolução. Os dados estavam lançados.
Em Santarém, patrulhas militares tomaram conta dos pontos estratégicos. O Comandante Militar da cidade, coronel Hugo Leitão, "inteirado do que se passava não opôs quaisquer dificuldades". A população aderiu, de imediato, ao levantamento".
EM LISBOA E NO PORTO A POPULAÇÃO VITORIOU
AS FORÇAS ARMADAS.
"Às quatro da madrugada, o movimento das Forças Armadas dominavam, em Lisboa, os principais órgãos de Poder, enquanto recebia adesões de Norte a Sul da Metrópole. A primeira notícia de revolução foi dada pelo Rádio Clube Português, em poder dos sublevados, que se apoderaram também da Emissora Nacional. Esta transmite contínuos apelos à população para que não saísse à rua e pedia à GNR e à PSP que se rendessem, para evitar o derramamento de sangue. Numa operação perfeitamente sincronizada, grupos militares cercaram os edifícios governamentais, no centro de Lisboa, praticamente dominada quando amanheceu. Militares distribuíam panfletos em que anunciava a finalidade da revolta e as razões desta. A Emissora Nacional recomeçou a funcionar, pouco tempo depois das 8 horas transmitindo o mesmo comunicando que, de 15 em 15 minutos, era difundido pelo Rádio Clube Português, tocando a seguir o Hino Nacional.
25 de Abril de 1974 (foto DN 3/8/2005)
Forças da Escola Prática de Cavalaria, da Escola Prática de Infantaria (Mafra), do Regimento de Engenharia 1 (Lamego) e do Batalhão de Caçadores 5 dominavam a baixa Lisboeta, enquanto forças de Vendas Novas tomam posições do outro lado do Tejo, em Cristo Rei. Unidades da Marinha de Guerra, que aderiu, desde o princípio, na sua quase totalidade, à revolução, evolucionaram frente ao Restelo.
O total das forças que ocuparam o Terreiro do Paço, o Rossio, a Praça do Comércio e outros pontos estratégicos da Baixa cifraram-se em cerca de 600 homens e 50 autometralhadoras e carros de combate. A população lisboeta aderiu, de imediato à revolução por vezes complicando os movimentos das tropas, que seguiam por toda a parte.
Cerca das 11 horas, saíram do Terreiro do Paço três colunas militares com objectivos específicos. Uma de fuzileiros da Armada dirigindo-se para as instalações da DGS; outra tomou por objectivo o quartel da Legião Portuguesa e a terceira o quartel da Guarda Republicana, ao Carmo. Ali se tinham refugiado o Almirante Américo Thomaz, o Sr. Prof. Marcello Caetano e vários membros do Governo. Helicópteros da Força Aérea, sobrevoam o Quartel".
25 de Abril de 1974 (foto Notícia. Angola)
"Às 11.40, o Movimento das Forças Armadas afirma, num comunicado, que "domina a situação de Norte a Sul e dentro em pouco chegará a hora da liberdade". O povo de Lisboa, com evidência para a juventude, apesar dos apelos para que não saia de casa, reúne-se até formar multidão no Rossio e na Praça do Comércio, vitoriando as Forças Armadas. Oferecem cigarros, sanduíches e flores aos militares.
Logo no início da rebelião, os aeroportos de Lisboa, Porto e Faro foram encerrados ao tráfego. Ao amanhecer, os barcos estrangeiros surtos no Tejo receberam ordens para levantarem ferro. A fronteira com a Espanha está, também encerrada.
Às 14 horas o movimento militar está praticamente vitorioso em toda a Metrópole. O General Costa Gomes assume a chefia da 2ª Região Militar (Porto), sem encontrar, praticamente, oposição. Em Viseu, o Regimento de Infantaria 14 anuncia a sua adesão à revolta e sai do quartel, para se juntar a outras unidades militares, também sublevadas, que avançam para Sul. Em Coimbra não se vislumbra movimento de tropas.
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