sábado, 10 de setembro de 2011

Satélite (UARS) que vai cair na Terra preocupa NASA

In "Expresso.pt":

Entre final de setembro e outubro um satélite à deriva deverá cair na Terra. Para já, a NASA não sabe que região poderá ser atingida pelos mais de 500 quilos de metal.

satelite-58bc A agência espacial norte-america, NASA, reconheceu estar "preocupada" com a queda prevista para final de setembro e outubro, de um satélite com mais de 20 anos.

Os restos mortais do Upper Atmosphere Research Satellite (UARS) podem cair em qualquer lugar mas, segundo os cientistas, a possibilidade de atingirem alguém é de um para 3.200. Com efeito, parte do equipamento de 5.9 toneladas deverá desintegra-se ao entrar na atmosfera terrestre, onde não deverá chegar, pelas contas da NASA, cerca de 544 quilos de metal.

Bem menos do que estação espacial russa Mir de 123 toneladas, que caiu na Terra em 2001 ou do Skylab (91 toneladas), atingindo a superfície terrestre em 1979. Em ambos os casos ninguém foi atingido.

Um para 10.000

"Desde o fim da corrida do espaço que reentram regularmente na atmosfera objetos, sem que ninguém tenha sido atingido até à data", lembrou Gene Stansbery, da NASA. "Isso não significa que não estejamos preocupados", acrescentou.

Atualmente, a NASA tem uma regra, segundo a qual, a possibilidade de um satélite atingir alguém não poderá ser maior do que um para 10.000. Só que o UARS foi lançado em 1991, bem antes dessa regra ter sido adotada.

Este satélite, sem combustível desde 2005, foi lançado com o intuito de estudar as alterações climáticas, medindo a concentração de determinadas substâncias químicas na atmosfera.

"É muito cedo para dizer com rigor quando é que o UARS deverá rentrar na atmosfera, e em que região deverá cair, mas a NASA segue a situação de muito perto", rematou Gene Stansbery.

 Expresso.pt

Upper Atmosphere Research Satellite (UARS) movie part 1:

 

Upper Atmosphere Research Satellite (UARS) movie part 2:

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Chegou ao fim a odisseia dos vaivéns espaciais

In "PUBLICO.PT":

O vaivém Atlantis aterrou às 10h57 (hora em Portugal) no Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Florida, com quatro astronautas a bordo. Foi a última viagem de um vaivém da NASA.

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O vaivém aterrou pouco antes do nascer do Sol (às 05h57, hora local), cerca de uma hora depois de ter entrado na atmosfera terrestre e de ter sobrevoado a América central. Em piloto automático durante toda a descida, o comandante Chris Ferguson assumiu os comandos da nave manualmente para alinhar o vaivém com a pista de aterragem.


"Missão cumprida, Houston. Depois de ter servido durante mais de 30 anos, a nave espacial americana conquistou o seu lugar na História", disse o comandante do Atlantis, pouco depois da aterragem.


Depois, os quatro astronautas - Chris Ferguson (comandante), Doug Hurley (piloto) e os especialistas de missão Sandra Magnus e Rex Walheim - procederam a uma série de avaliações aos sistemas de segurança.


Este é o fim da missão do Atlantis, que passou oito dias, 15 horas e 21 minutos acoplado ao laboratório orbital.


“Os vaivéns espaciais mudaram a forma como vemos o mundo, a forma como vemos o universo”, acrescentou Ferguson . “A América não vai parar de explorar [o espaço]”, garantiu Ferguson, agradecendo o fim do programa, com sucesso.


O Atlantis saiu da Terra no passado dia 8 de Julho, com o objectivo de transportar quatro toneladas de carga em comida, roupas e equipamento para um ano de trabalho da ISS. A carga foi armazenada no módulo italiano Raffaello, de 6,5 metros de comprimento, que ficou acoplado à estação durante estes dias. Os astronautas descarregaram o que havia no módulo e voltaram a enchê-lo com lixo produzido na ISS e material que já não é necessário, voltando à Terra com o Atlantis.


Foi o 33º voo deste vaivém, que se estreou no espaço em Outubro de 1985.


O fim da frota de vaivéns espaciais da NASA foi decidido pelo Governo norte-americano, em parte devido aos elevados custos de manutenção das naves. As cinco naves do programa espacial realizaram mais de duas mil experiências nas áreas das ciências da Terra, Astronomia, Biologia e Materiais. Ao longo destes anos, acoplaram em duas estações espaciais: a russa Mir e a ISS.


Agora, a curto prazo, a NASA vai depender da Rússia para transportar astronautas de e para a Estação Espacial Internacional (ISS).


O Atlantis ficará exposto no centro de visitantes no Centro Espacial Kennedy, e os Discovery e Endeavour - que cumpriram as suas últimas missões no início deste ano - ficarão à guarda do Museu do Ar e do Espaço (Virgínia) e Centro de Ciências da Califórnia, em Los Angeles, respectivamente.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O 25 Abril 1974

O 25 Abril 1974:

25 de Abril 1974 PORTUGAL (FILME A CORES), Revolução dos cravos. Révolution des oeillets, a cores:

Revolução do 25 de Abril de 1974:

Portugal Lisboa Revolução de 25 de Abril de 1974:

quarta-feira, 23 de março de 2011

No rasto das Invasões Francesas

In "Guerra dos Sapatos":

...

1 - GPeninsular

As vítimas em meio rural – Um relance pelas freguesias de Abrantes

- Aldeia do Mato
Foi, juntamente com o Souto, uma das mais sacrificadas... Segundo o testemunho do seu cura-reitor António de Matos Ferraz, que fugiu da paróquia amedrontado, «No mês de Novembro de 1810 entrárão os Franceses nesta freguesia e no ano de 1811, e destruírão a igreja matriz de maneira que só deixárão ás paredes, e matárão muita gente desta freguesia e de outras mais, e presentemente digo missa nas casas da minha residência, e para constar fiz a presente declaração» (RP).
As vítimas directas à mão da tropa francesa somaram 13 moradores com morte violenta e imediata, que a seguir se discriminam, todos em 1811:
- A 21 de Março – João Soares, do Souto, sepultado no campo em um lugar bento e assinalado pelo cura, registado a 27; e um outro indivíduo que o cura identificou como sendo do lugar do Contraste, sepultado a 22 também em campo bento.
- Achados mortos entre 27 e 29 de Abril e todos enterrados no campo – António Amaro, natural do Souto e que morava a soldada com Manuel Fernandes, das Fontainhas; Simão Joaquim, que era casado com Maria Antónia, da Medroa; Manuel Rodrigues, casado com Damásia Maria, da Medroa; Cipriana, filha do casal anterior; Manuel Francisco, viúvo de Mariana Vicente, do lugar das Casinhas; outro Manuel Francisco, casado com Maria Nunes, da Carreira do Mato; Manuel Pires, casado com Ana Maria, da Carreira do Mato; Francisco, filho do casal anterior; João, criado de António José dos Santos, também da Carreira; José Lopes, ainda da Carreira; um outro Manuel Francisco, casado com Eugénia Maria, da Cabeça Gorda.
- Achado morto pelos franceses a 3 de Maio – José dos Santos, do lugar das Figueiras.
Contudo, analisando globalmente os óbitos da paróquia, verificamos que os custos indirectos terão sido enormes, pelo pânico instalado mormente entre crianças, pela doença (“maligna”) e pela fome, «por estar a freguesia invadida do inimigo». Assim, se em 1807, ano da 1.ª invasão, encontramos apenas 13 óbitos, em 1808 já se registou uma ligeira subida (21), em 1809 houve 19 e em 1810 (ano da nova invasão) outros 19; mas em 1811 as cifras ascenderam a um total record de 82 óbitos, sendo os piores meses os de Abril com 32 (11 assassinados pelos franceses), Maio com 24 e Março com 7 (2 pelos franceses); em 1812 houve 24 e em 1813 houve 18. Faltam os dados completos de 1814.


- Alvega
Nenhuma anomalia se assinala nos livros de assentos ao longo dos anos de 1807 a 1810, não se dispondo de dados a partir de 12 de Maio de 1811. Nos primeiros meses deste último ano, porém, não só se verificou um aumento substancial da mortalidade (48 em Janeiro/Fevereiro e 36 em Março Abril), como um aumento de deslocados vindos das freguesias da margem direita/norte do Tejo, tendo mesmo ocorrido uma morte, a 13.1.1811, de um indivíduo chamado João Marques Casquilho, do Casal da Carregueira (Mação), «morto pelos Franceses junto ao mesmo rio Tejo no sítio das Fouzeiras», o qual foi sepultado no dia 17 seguinte no adro de Alvega. A falta do livro de assentos seguinte, que incluía o período crítico de 1811-1812, poderá no entanto esconder algo de anormal...


- Bemposta
Não registou esta freguesia especial anormalidade demográfica entre Novembro de 1807 e Janeiro de 1812, para além de um substancial aumento da taxa de mortalidade: em Outubro de 1810 todos os covais da igreja estavam impedidos, pelo que se recorreu ao adro. Contudo, também desta freguesia desapareceu o livro de óbitos seguinte, que incluía o ano de 1812.
Por tradição consta que, no sítio da Salgueirinha, um grupo de soldados franceses em fuga defrontou habitantes da zona. É possível que se trate do episódio de 17.8.1808, que envolveu a fuga e a morte do corregedor francês, a que já acima aludimos...


- Martinchel
Terá sido, seguramente outra das freguesias sacrificadas, mas faltam os dados: No ANTT os assentos vão só até 1772 [no Arquivo Distrital de Santarém (= ADS) temo-los somente após 1860].

- Mouriscas
Nada de anormal até 1808, salvo um assento a assinalar a morte «de repente com hum tiro pelos franceses» de José Álvares, do Casal do Pinheiro desta freguesia, a 4.12.1807, no decurso da 1.ª Invasão. Mas em 1809 o número absoluto dos óbitos sobe de 24 (do ano anterior) para 84, saldando-se em 1810 nos 50, em 1811 nos 86 e em 1812 nos 35, um sintoma evidente da crise trazida pelas invasões. Vítimas directas, «na guerra», há a registar apenas mais um morador, o miliciano José dos Santos, do Casal da Igreja, no dia 20.4.1811. Os Óbitos de 1811 assinalam, porém, alguns casos de pessoas que faleceram sem sacramentos «por causa da opressão da tropa francesa» (em Fevereiro) ou que se encontravam «refugiadas da tropa francesa» em casais desta freguesia (Engarnais Cimeiros - 1 e Entre Serras - 3, todos estes vindos do Sardoal), em Alvega (4, todos falecidos na primeira quinzena de Março) e no Pego (Casal dos Facheiros, 1, Bernardo Delgado, do Casal dos Canenhos). É de salientar ainda a morte de dois soldados portugueses, um do Regimento de Infantaria de Chaves, no Casal dos Cascalhos, a 12.8.1811; e o outro da 1.ª Comp.ª de Granadeiros, natural do concelho de Penaguião, que ia conduzido ao hospital de Abrantes, e morreu de repente em Abril de 1812 na estalagem de Francisco Denis.


- Pego
Faltam informações para o período em análise: livros de óbitos no ANTT só os temos até 1773; no ADS, só após 1819...;


- Rio de Moinhos
Aparentemente também nada de anormal ocorreu nesta freguesia, para além do natural acréscimo do número de óbitos nestes anos da Guerra: em 1809 ascenderam os valores absolutos a 79 (tinham sido apenas 28 em 1808), baixaram a 45 em 1810, voltando a subir nos anos seguintes (87 em 1811 e 48 em 1812).


- S. Facundo
Situação idêntica à do Pego e Martinchel: o livro de óbitos do ANTT só vai até 1803; no ADS, só após 1825...


- S. Miguel do Rio Torto
Faltam os assentos desde Junho de 1807 a 28.11.1809. Os anos seguintes registam óbitos acima da média (56 em 1810, 89 em 1811 e 60 em 1812), mas apenas num caso se diz que foi morto pelos Franceses: ocorreu esse óbito a 24.12.1810, na pessoa de José Rodrigues Braz, que era de Aldeia do Mato, casado com Maria Teresa, tendo a vítima ficado sepultada na igreja de S. Miguel, sem sacramentos. Particularidade de notar é o enterramento nesta mesma igreja de duas pessoas em 3 e 4 de Novembro de 1811, respective João Castanho Bertinho, da freg.ª de S. João (Abrantes), e Soror Rita Joaquina do Céu, do Convento da Graça, «por S. João e S. Domingos se acharem ocupados com víveres para as tropas (portuguesas)».
Nesta freguesia existe a capela de N.ª Sr.ª da Conceição, que segundo a tradição se ficou a dever a um episódio das Invasões por aqui ocorrido [entre 1808-1812], tendo na ocasião um oficial francês oferecido uma belíssima imagem da Senhora da Conceição (em jaspe) a uma lavradora do Valongo ou Vale Longo, que o tratara como boa samaritana [Ao que julgo saber, a senhora chamava-se Mariana Lopes, e o oficial bem poderia ter sido o corregedor francês ou um seu subalterno dos que se escapuliu para aqueles lados depois da tomada de Abrantes a 17 de Agosto de 1808]. Donde afinal se prova que, neste processo histórico, os franceses não cometeram somente violências e latrocínios: também souberam ser gratos e generosos...
13 -NS.ª Conceição
A belíssima imagem de N.ª Sr.ª Conceição, que se guarda em S. Miguel do Rio Torto


- Souto
Não obstante os assentos paroquiais desta freguesia nada revelarem de anormal, a avaliar pelo que nos chegou via paróquia de S. Vicente e também pelas queixas dos moradores aos responsáveis do reino, parece indubitável ter sido o Souto uma das áreas mais afectadas. Logo na entrada de Junot por S. Domingos, nos finais de Novembro de 1807, foi devassada a velha ermida do lugar e queimadas as imagens que aí havia. Relativamente à igreja matriz, testemunhava em 27.5.1815 o P.e José dos Santos Baptista, morador no Souto, perante o corregedor da comarca: «...pelo ver, ser público e bem notório, [afirmo] que a igreja matriz, pela invasão última do exército francês [finais de Abril de 1811], ficou inteiramente arruinada e destruída, assim como as imagens dos seus santos queimadas e despedaçadas». De resto, a taxa de mortalidade cresceu muito: 31 óbitos em 1807, 56 em 1808, 87 em 1809 e, de 1810... 31 só até 26 de Agosto [Falta o livro do assentos de defuntos seguinte, de Setembro 1810 a 1820, que seria o principal como fonte informativa e aquele que discriminaria as vítimas]. ;


- Tramagal
Pelo menos aparentemente, nada sofreram os moradores desta freguesia para além dos efeitos gerais da crise. A análise estatística dos assentos revela a seguinte evolução: em 1808 = 27 óbitos, em 1809 = 19, em 1810 = 65 (sendo 49 só nos três últimos meses), em 1811 = 92 (sendo 52 nos três 1.ºs meses), em 1812 = 20, e em 1813 = 21.

 

As vítimas em alguns dos concelhos vizinhos


- Constância
Esta vila foi, confirmadamente, uma das mais vandalizadas pelas hordas francesas. Não detemos, contudo, a listagem das vítimas nem dos prejuízos por falta dos imprescindíveis assentos paroquiais, o que só por si é indício de ter havido problemas muito graves (com roubos e destruições). O livro de óbitos n.º 4 expira em Janeiro de 1773 e o n.º 5 só tem início em 20.5.1811, quando já tinha passado a fase mais grave dos desacatos (que ocorreu nos finais de Abril). Para agravar este quadro informativo, verificamos falhas de vária natureza nos registos (lapsos, desordem, emendas), saltando de 8.8.1811 para 24.1.1812. Nenhum dos óbitos registados se relaciona directamente com as Invasões, mas o facto de os finados serem sepultados maioritariamente na Misericórdia deixa perceber que a matriz estaria superlotada. Relativamente às freguesias, tanto de Montalvo como de Santa Margarida da Coutada, não há qualquer referência a vítimas directas das invasões nem a qualquer morte violenta causada por franceses, muito embora possamos admitir que as tenha havido: por um lado, é nítido o aumento dos óbitos no período em questão; por outro, encontramos nos registos alguns casos anómalos. [7]


- Sardoal
Detemos informações apenas relativamente à vila, pois faltam os registos de Alcaravela, Santiago de Montalegre e Valhascos. Na 1.ª Invasão assinala-se somente uma vítima mortal, à passagem das tropas retardatárias de Junot: foi a 29 de Novembro de 1807, Ignácio Lopes, de Alcaravela, solteiro de ± 30 anos, natural d’Amieira (Alcaravela), filho de Manuel Lopes e Luísa Maria, do dito lugar, que sucumbiu sem sacramentos, «porque foi morto com um tiro de espingarda por um soldado francês», sendo sepultado no cemitério da matriz do Sardoal, com missa de presente. Mas aquando da 3.ª, todo o espaço concelhio esteve à mercê da soldadesca napoleónica, com saques generalizados e profanação de igrejas em várias ocasiões, e mormente entre Janeiro e Março de 1811 (Vide retro), contabilizando-se aí pelo menos 8 vítimas mortais, em diversas partes e em apenas dois dias de meses e anos diferentes, quase todos mortos a tiro:
No primeiro dia, 8.12.1810: Bernardo José, alfaiate, dos Andreus, casado com Perpétua Joaquina, «sem sacramentos por ser morto pelos franceses de tiro de bala na sua mesma aldeia, e foi sepultado no campo alguns dias depois de haver sido morto, por não haver quem o conduzisse à igreja por causa da invasão do inimigo»; José Pedro, também dos Andreus, maior de 60 anos, casado com Maria Joaquina, «porque o inimigo invadiu a mesma aldeia», igualmente sepultado no campo três ou quatro dias após; João Rodrigues, moleiro, ainda dos Andreus, de ± 80 anos, casado com Luísa Maria, «morto a tiro de bala pela tropa inimiga em uma estrada junto à Venda da Laranjeira», não se sabendo onde foi sepultado; e João Dias Navalho, do Mógão Cimeiro, ± 50 anos, casado com Luísa Felícia, «morto a tiro de bala pelos franceses» e sepultado na igreja.
No 2.º dia, 11.1.1811: Bernardo Apariço, casado com Maria Conceição, assistentes no Casal da Cordeira, freguesia do Sardoal, «morto a tiro de bala pelo inimigo», sendo sepultado no campo por não haver quem o conduzisse à igreja; o P.e João Pinto, da Ordem de Palmela [Santiago], natural e morador na vila do Sardoal, «morto pelo inimigo a tiro de bala» e sepultado alguns dias depois no cemitério paroquial; António da Silva, de ± 40 anos, solteiro, assistente no lugar de Entre as Vinhas, também a tiro de bala e sepultado na capela de Santo António do dito lugar; e Francisco Dias, do lugar de Cabeça das Mós, casado com Antónia da Silva, igualmente a tiro e sepultado na igreja do mesmo lugar.


- Vila de Rei
Apesar de pequeno e pouco povoado, foi este mais um concelho da região fortemente sacrificado. Aquando da 1.ª Invasão, os franceses profanaram a igreja e a Misericórdia, utilizando-as como cavalariças. Em termos de vítimas, registou-se apenas uma, mas esta de superior qualidade militar e social: o Sargento-mor da vila, Francisco António Rodrigues, de 71 anos. Foi a 2 de Dezembro de 1807, depois de a tropa lhe ter entrado em casa e ter despedaçado um Cristo e um S. João Baptista.
Seria sepultado no dia seguinte sem sacramentos, no adro da igreja, «por estar incapaz tudo». Donde se infere que a vila terá oposto resistência, ao que os franceses devem ter respondido sem meias medidas decapitando-a. Com a 3.ª Invasão, Vila de Rei volta a ser castigada: são cerca de uma dezena as vítimas arroladas. Nos registos de óbitos, sobretudo entre meados de Dezembro de 1810 e Março de 1811, evidencia-se também grande desordem; as pessoas morrem sem sacramentos e são sepultadas fora da igreja, justificando-se o vigário encomendado «por estarmos refugiados». E mesmo depois, raramente havia lugar para os mortos na igreja, sendo inumados no adro e algumas vezes nos lugares onde morriam ou nos sítios de refúgio (p. ex., Alcamim, Zaboeira).
Assim, a 20.12.1810, morre Maria de Jesus, viúva, na Zaboeira, e foi sepultada junto ao lugar, «por se não poder vir à igreja» [diz uma nota: «daqui para diante não tem havido cruzes nem bandeira»]; a 24.12.1810, são mortos pelos franceses dois indivíduos, José Martins e Manuel Luís, ambos casados e moradores na Cabecinha, sendo sepultados no campo «por estar tudo invadido pelos inimigos franceses»; a 27.12.1810, são mortos pelos franceses mais dois indivíduos, Manuel Álvares, casado com Luísa da Silva, da Portela, e Luísa Dias, viúva de José da Silva, do Lavadouro; 15.1.1811, é a vez de Manuel Álvares, casado com Maria Luísa, também moradores na Cabecinha, «sem sacramento por ser morto pelos franceses e foi sepultado no campo»; a 16.1.1811, segue-se Manuel Nunes, viúvo, «sem testamento nem sacramentos por causa dos franceses»; a 24.1.1811, vem Domingos Dias, casado com Josefa Maria, moradores no lugar da Macieira, «morto pelos franceses e sepultado no campo»; a 4.2.1811, morre Maria Joaquina, moradora na Zaboeira, e foi enterrada junto do dito lugar «por estar tudo invadido pelos inimigos franceses»; a 17.2.1811, é morto Manuel Nunes, carpinteiro, casado com Maria Josefa, moradores no lugar de Milreu, e foi enterrado «junto ao vilar desta freguesia»; e finalmente, a 24.2.1811, é morto pelos franceses Manuel António Martins, viúvo de Joana Maria, moradores no Brejo Fundeiro, e foi «sepultado no campo por impedimento da igreja». [8]


- Mação
Sobre este concelho, onde também se registaram graves incidentes nas duas invasões, veja-se a Monografia do Concelho de Mação (1947), de António de Oliveira Matos, e nesta revista o competente estudo de Jaime Marques da Silva. [9]


- Gavião
O excelente estudo do Rev.º José Dias Heitor Patrão, Gavião – Memórias do Concelho, ed. Colibri, 2003, com o capítulo das Invasões a ocupar as págs. 313-318, dispensa-nos mais comentários. São de notar nele as várias cartas de Wellington escritas desta vila, a 28 e 29.12.1809.


- Chamusca e Tomar
Também estes concelhos beneficiaram já de apreciáveis estudos históricos. Para o primeiro caso, cite-se o contributo de João José Samouco da Fonseca, em História da Chamusca, vol. II, 2002, cap. V, pp. 125-145. Quanto a Tomar, a bibliografia é mais vasta, mas como instrumento de trabalho continua a ser de grande utilidade o volume que engloba o período aqui em análise, Anais do Município de Tomar (1801-1839), da responsabilidade de Alberto de Sousa Amorim Rosa, ed. da Câmara Municipal de Tomar, 1967.


Considerações finais


Entre 1807 e 1814, Portugal e Espanha foram protagonistas a corpo inteiro, no teatro de operações peninsular, da luta multissecular entre França e Inglaterra. Eram, afinal, nesse tempo, as quatro nações com impérios... E, nesse sentido, pode afirmar-se que a Guerra Peninsular foi um episódio central da guerra global que opôs o Império francês de Napoleão ao Império britânico.
Numa análise global aos sete anos desta Guerra, o exército anglo-luso terá sustentado, 15 batalhas, 215 combates, 14 sítios, 18 assaltos, 6 bloqueios e 12 defesas de praças. O número de vítimas é mais difícil de contabilizar – calcula-se que as tropas portuguesas tenham sofrido 5150 mortos, num total de 21 141 baixas. Mas, os civis que acabaram por morrer em lutas, nas chacinas de represália, em resultado de ferimentos, ou as vítimas da fome, de doenças e do medo espalhadas pelos montes, dificilmente contabilizáveis, terão sido muitos mais.
Neste abreviado estudo, procurei ver a Guerra a partir de Abrantes.
Pois bem, se na 1.ª Invasão não houve problemas de maior, servindo Abrantes a Junot mais como um pequeno oásis para retempero de energias e recuperação de algum equipamento, também como porta de entrada num dos poucos eixos viários do território (que todos eram maus); já na 3.ª Invasão o seu papel foi crucial como bastião e sustentáculo da pressão francesa, vinda sobretudo do Norte e Oeste (lado do Zêzere). A vila, com a colaboração dos reforços ingleses, esteve durante algum tempo quase cercada, numa linha de cintura que ia de Constância ao Penhascoso com o inimigo a dois passos no Sardoal e mesmo infiltrado dentro do concelho (quando chegou a dominar Martinchel, Aldeia do Mato e Souto). Ainda assim, não poderão os abrantinos queixar-se muito, porque outras vilas e concelhos sofreram muito mais...
Em síntese, há claramente alguma factologia tradicional que se confirma; há outra que se complementa; mas colhem-se também algumas novidades. Uma delas, muito óbvia, é que não foi a 1.ª Invasão (de Junot) a mais gravosa para as gentes abrantinas, mormente em vidas sacrificadas – a expulsão dos franceses não causou nenhuma vítima portuguesa na vila e os custos nem sequer correram por conta dos locais (foi gente de fora que empreendeu toda a operação). A 3.ª Invasão foi imensamente pior. Outra constatação é que sofreram mais as aldeias situadas ao longo dos corredores de passagem, e sobretudo da Zona Norte (Aldeia do Mato, Martinchel e Souto). Por fim, verifica-se que não foram só os jacobinos e maçons franceses os "maus da fita", como certa historiografia tendeu a fazer crer...
Afinal, entre os invasores também houve espanhóis e de outras nacionalidades; houve sítios onde os invasores nunca entraram e onde os autênticos usurpadores e destruidores foram os "aliados" ingleses. Sobre isto é bem conhecida a história dos tempos seguintes que geraram a conspiração de Gomes Freire de Andrade e a Revolução de 1820. E uma pequena prova, entre muitas outras que poderão aduzir-se, é o documento que em anexo se transcreve (Doc. 2), pois que vem subverter de algum modo a visão tradicional dos acontecimentos, recolocando novas e pertinentes questões sobre a matéria e relançando outras. É que posteriormente e até aos nossos dias muita propaganda e muita animosidade se gerou (geralmente anti-francesa), consoante os preconceitos ideológicos.
Bem verdadeiro é o aforismo que nos diz que a história prevalecente é a dos vencedores. Importa, pois, desmistificar a filosofia belicista. Uma guerra é uma guerra, quase sempre imposta de cima e de longe e não desejada pelos que a sofrem, com vítimas inocentes e a sofrerem de ambos os lados. Por outro lado, neste conflito, se houve páginas de horror e caos, próprias de uma guerra e de uma mentalidade por vezes abstrusa (que é inata ao próprio homem e como tal ainda se vai manifestando hoje, até em sociedades desenvolvidas!), também houve páginas de fraternidade e humanismo, como foi em Abrantes o lamento sentido pela morte do corregedor francês, ou o gesto de gratidão do oficial francês para com a boa samaritana de S. Miguel ao ofertar-lhe a belíssima imagem da Virgem.
Termino com dois apontamentos:
O primeiro para lembrar que, com estas comemorações bicentenárias que se prevêem, Abrantes honra a sua Memória e a sua História. Já o fizera há 100 anos (1907-1911), com um programa evocativo interessante, mas em que ainda prevalecia a ideia da «libertação gloriosa do jugo francês», o nosso «inimigo», como se pode ver pela Acta da sessão da CMA de 17.8.1908 e pela lápide descerrada a 7 de Março de 1911, no muro fronteiro aos lagos do Jardim do Castelo, onde se lê o seguinte:


«1808-1809 - 1811-1911 / 1º CENTENARIO DA GUERRA PENINSULAR. A 17 DE AGOSTO DE 1808, UM GRUPO DE PATRIOTAS ABRANTINOS / ARMADOS DE CHUÇOS E POUCAS ESPINGARDAS, DIRIGIDO PELO CAPITÃO DE CAVALLARIA / MANOEL DE CASTRO CORREIA DE LACERDA, TOMA A PRAÇA DE ABRANTES / OCCUPADA POR 200 FRANCEZES BEM ARMADOS DO EXERCITO DO GENERAL JUNOT. / DE OUT.º DE 1810 A MARÇO DE 1811, DURANTE A INVASÃO DO EXERCITO DO MARECHAL MASSENA, / A MESMA PRAÇA, PONTO ESTRATEGICO IMPORTANTE PARA O EXERCITO ANGLO-LUSO, / MANTEM-SE SEMPRE EM PODER DOS NOSSOS, APESAR DE INVESTIDA PELO INIMIGO, / PADECER PRIVAÇÕES E DOENÇAS, NUNCA SE ABATENDO O MORAL DO POVO / E GUARNIÇÃO COMMANDADA PELO CORONEL JOÃO LOBO BRANDÃO D’ALMEIDA»


Hoje tudo é diferente, pois até temos a colaborar connosco os nossos amigos franceses (de Parthenay), com quem temos um pacto de geminação, aliás o único de Abrantes na Europa!...
O segundo apontamento é a existência em Lisboa (nossa capital), na bela Praça/rotunda de Entrecampos, de um interessante monumento que toda a gente olha e conhece de vista, mas que poucos verão e conhecerão bem. Ele é dedicado «Ao Povo e aos heróis da Guerra Peninsular: 1808-1814». É uma obra do estatuário J. d’Oliveira Ferreira e do arq.º F. d’Oliveira Ferreira, feita em 1932. E, nessa obra, existem diversas homenagens, sendo uma delas – justíssima – precisamente ao Povo e à Cidade de Abrantes, pois aí figura o seu Brasão, voltado para o Rio Tejo e para o coração da urbe. Observem bem, quando por lá passarem: Ao centro está Lisboa, de um lado Torres Vedras (a evocar as famosas linhas de Torres), e do outro... ABRANTES!...

...

Ver:

Guerra dos Sapatos

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Guerra de Africa - 50 Anos

In "Reportagem - Sábado":

O inicio da guerra foi a 4 de Fevereiro de 1961.

Testemunho de cinco militares:




 
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