sábado, 28 de fevereiro de 2015

Corrupção governamental é rastilho para extremismo violento!

In “Jornal de Negócios”:

Com os olhos postos no crescente extremismo, a ideia de que a corrupção pode surgir como consequência da instabilidade global que se verifica em vários locais do mundo não é nova. Inovador é, ao invés, o argumento que reza que a mesma pode ser a sua principal causa. Sarah Cheyes, ex-jornalista e actual conselheira para as questões árabes da administração Obama, elege a corrupção governamental severa como o elo de ligação entre as diferentes e avassaladoras crises internacionais. E não deixa os Estados Unidos de fora…

Começa a não ser novidade o facto de, todos os dias, sermos inundados com imagens brutais que parecem confirmar que a humanidade está, de forma crescente, a desumanizar-se: seja pelos conflitos sanguinários no Iraque e na Síria, seja pelo impasse face à situação na Ucrânia, pelas raparigas raptadas no norte da Nigéria ou pelos ataques de extremistas na Europa. E a questão que se coloca é a seguinte: existe algum elo de ligação entre estas avassaladoras crises internacionais?

De acordo com Sarah Cheyes, ex-repórter premiada da National Public Radio e associada sénior do Democracy and Rule of Law Program no Carnegie Endowment for International Peace, a ligação, que pode ser inesperada, é clara: a corrupção.

De acordo com a autora do livro The Thieves of State: Why Corruption Threatens Global Security – e também da obra The Punishment of Virtue: Inside Afghanistan After the Taliban -, e em particular a partir da década de 1990, os níveis de corrupção atingiram uma proporção tal que "alguns governos se assemelham a gangues criminosos glorificados, preocupados apenas com o seu próprio enriquecimento. Estes cleptocratas conduzem as populações indignadas a extremos, seja através de revoluções ou a um tipo de religiosidade puritana militante", escreve.

Detalhando a sua ampla experiência e vivência no Afeganistão (onde viveu, fez parte de uma ONG e construiu uma cooperativa), em conjunto com uma pesquisa pormenorizada sobre pensadores de várias épocas – de Maquiavel, a John Locke ou ao famoso chefe de Estado medieval islâmico, Nizam Al-Mulk e sobre vários dos conflitos actuais, Sarah Cheyes ilustra, de forma inovadora e surpreendente, de que forma a corrupção não só tem impacto na vida das "pessoas comuns", como ameaça, perigosamente, a segurança e a estabilidade dos países.

A autora "mergulha" o leitor nas profundezas de alguns dos mais corruptos ambientes do planeta e analisa o que deste mar imenso vai emergindo: o regresso dos afegãos às fileiras dos Talibãs, os egípcios que derrotaram o governo de Mubarak – mas que estão também a redefinir a Al-Qaeda -, ou o terror infligido pelo grupo Boko Haram, entre outros capítulos sangrentos que estão, na actualidade, a ser inscritos num feio livro de(a) História. Apresentando uma forma nova para compreendermos o extremismo global, Sarah Cheyes apresenta argumentos fortes para olharmos para a corrupção como causa – e não como resultado – da instabilidade global. E não deixa os Estados Unidos – e outros países ocidentais – de fora.

Corrupção governamental é rastilho para extremismo violento

Por que motivo é que quase metade da população iraquiana está a pactuar com o mais do que psicótico e autodenominado Estado Islâmico? O que ou quem permite que os militantes do Boko Haram cometam atrocidades desmedidas e estejam a ganhar terreno no norte da Nigéria? Se o Iémen está a ser atacado regularmente por drones, como é que as fileiras da Al-Qaeda continuam a engrossar na Península Arábica? De acordo com a autora, são cada vez mais os países – em especial os que, há quatro anos, se revoltaram na famosa Primavera Árabe – que estão a impulsionar códigos morais rígidos como o antídoto certo face ao colapso da integridade pública.

E tudo isto porque as populações, cansadas de viver num clima de corrupção diária e sentindo-se insultadas e injuriadas continuamente pelos seus próprios governos, eles mesmos os principais perpetradores desta "cultura", começam a acumular raiva sobre raiva e a deixarem crescer o rastilho da violência. Sarah Cheyes ilustra bem a dimensão da corrupção em vários destes locais: pessoas que, para terem a certeza que os seus filhos são bem tratados na creche, têm de pagar às educadoras; as que precisam de ser atendidas num hospital público, têm de pagar aos médicos: as que pretendem que os seus filhos sejam aceites em universidades, são obrigadas a vender os seus bens para garantir a sua "inscrição" ou ainda um caso em específico, no qual é narrada a inacreditável história de um filho que, para conseguir uma certidão de óbito para o pai, morto por uma bomba, ter tido de pagar aos oficiais em causa para a obter, entre outras "actividades" similares.

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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

 
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