sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A guerra dos sexos trava-se dentro dos ovários, as armas são os genes

In "PUBLICO.PT":

Se um bebé é menino ou menina, depende do cromossoma Y, que transportava o espermatozóide do pai que fertilizou o óvulo da mãe. Mas a resposta completa é um bocadinho mais complicada. Já se sabia que o embrião tinha de desencadear uma guerra hormonal para se tornar macho; agora, uma equipa de cientistas europeus descobriu que mesmo nos ovários de fêmeas adultas decorre uma guerra para que estes não se transformem em testículos.

Nos humanos, o sexo é determinado pelos cromossomas: as mulheres têm dois X, e os homens têm um X e um Y. Enquanto o X é enorme, o Y é pequenino, com poucos genes – mas com um fundamental, chamado SRY. É responsável por desencadear o desenvolvimento dos testículos, activando outro gene, chamado SOX9, que faz com que se desenvolvam testículos no embrião em vez dos ovários que seriam o seu destino, se o SRY não entrasse em acção. Por isso, existia a ideia de que o embrião era feminino por defeito.


O trabalho publicado na revista Cell esta semana, coordenado por Mathias Treier, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, mostra que, nos adultos, é o caminho para se transformar num macho que tem de ser constantemente contrariado pelas fêmeas.


Esta descoberta pode ter importantes implicações para compreender desordens do foro sexual em crianças e casos de menopausa prematura, sublinham os investigadores, citados num comunicado da Cell.


Mas em termos de ciência básica, além de descobrir os mistérios fundamentais da vida, há ainda outro ponto muito interessante nesta descoberta: o gene que mantém o SOX9 inactivo, para que os ovários continuem a funcionar, não fica no cromossoma X e muito menos no Y: fica no cromossoma três, chama-se FOXL2 e não está activo apenas durante o desenvolvimento embrionário. É também produzido em grande quantidade durante a idade adulta e actua com receptores de estrogénio à superfície das células do ovário para reprimir a acção do SOX9.


Em experiências feitas em ratinhos, se a acção do FOXL2 for inibida, os ovários começam a produzir linhagens celulares típicas dos testículos, como as de Sertoli e de Leydig, e a produzir testosterona. “Como o yin e o yang, o FOXL2 e o SOX9 opõem-se à acção um do outro para garantir o estabelecimento e manutenção dos diferentes tipos celulares femininos e masculinos”, diz Treier, citado pela Cell.

 

287811À esquerda, tecidos normais de ovário de fêmea de rato adulta, com imagem aumentada de células normais; à direita, o que acontece quando gene FOXL2 foi silenciado e o ovário começou a produzir células de Sertoli

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