domingo, 27 de setembro de 2009

Comida vegetariana é uma boa alternativa aos excessos alimentares actuais

In "DNOTICIAS.pt":

A comida vegetariana é uma boa alternativa aos excessos alimentares actuais, mas a mudança de dieta deve ser gradual e com acompanhamento médico.dn0401520101

Carne, peixe ou vegetariano? As ementas de alguns restaurantes - mesmo os que não ostentam o rótulo de vegetariano ou macrobiótico - entraram na moda e oferecem aos clientes uma alternativa de refeição só com vegetais. E se há oferta, significa que quem alguém procura, em alguns casos até mais do que os pratos de peixe. A tendência vegetariana venceu os preconceitos e, para os nutricionistas, pode ser uma boa escolha, uma opção saudável ao tipo de alimentação ocidental, onde há consumo excessivo de carne e de açúcar. As mudanças, no entanto, não devem ser abruptas. Ou seja, um corte radical entre uma dieta com carne e peixe para outra onde os produtos de origem animal se limitam ao leite e aos ovos terá consequências. Carmo Faria, nutricionista, explica que não há mal se a alteração ocorrer de forma gradual e com acompanhamento médico. Ao prescindir de produtos de origem animal, o corpo pode ressentir-se e ter, por exemplo, carências de ferro (ausência de ferro está na origem da anemia).


O aconselhamento de um nutricionista é importante para que, entre o que oferece a comida vegetariana, compensar estes desequilíbrios. Mas este não é o único risco da comida vegetariana. O rótulo produz alguns enganos, as pessoas baixam a guarda e a atenção, comem tudo porque é vegetariano, de soja ou de tofu. Carmo Faria lembra, no entanto, que o grande senão deste tipo de alimentação está nos fritos e no excesso de sal. "Fazem-se muitos rissóis, muitos fritos e esses alimentos continuam a ser maus para uma alimentação saudável. Por outro lado, usa-se como tempero o molho de soja, que é muito rico em sódio, muito salgado".
Se houver atenção e acompanhamento, este estilo é, sem dúvida, uma boa alternativa, certamente mais saudável do que aquela que se pratica nos dias de hoje, com consumo excessivo de carne, de hidratos de carbono e muito açúcar. Porque, na Madeira, apesar da herança, há muito que se deixou de praticar uma alimentação mediterrânea, com muitos vegetais, hidratos de carbono, peixe, ovos, queijo e a carne reservada para ocasiões festivas. "Quase ninguém come segundo essas regras, o que há é uma alimentação ocidental, onde os vegetais estão no prato mais para enfeitar do que para comer".


Numa altura em que poucos respeitam a regra de meio prato de vegetais, um quarto de hidratos de carbono e outro de carne ou peixe, a opção por comida vegetariana parece bem, mais próxima daquilo que se recomenda e se entende por saudável. "É importante, no entanto, que não se confunda os tipos de alimentação. Os vegetarianos comem ovos, leite e derivados do leite e são, por isso, diferente dos veganos e dos macrobióticos, estas dietas não incluem qualquer produto de origem animal. Estas dietas são, por isso, mais pobres".


Pobres se se optar por seguir o regime alimentar à risca, mas não é o caso da maioria dos clientes que enchem os restaurantes com oferta macrobiótica e vegetariana à hora de almoço. Filipa França, que gere a 'Segurelha' no centro comercial Dolce Vita, explica que os seus clientes não são vegetarianos convictos, pelo menos a maioria não é. "As pessoas estão mais atentas, sabem que devem evitar o consumo de carnes, sobretudo de carnes vermelhas e, por isso, estão mais disponíveis para trocar o prato de carne do almoço por um vegetariano. Mesmo com indicação dos médicos, não é fácil adaptar o gosto, nem ficar satisfeito com um crepe de vegetais, uma salada e uma pequena porção de quinoa ou cuscus (hidratos de carbono muito usados neste tipo de alimentação).


A gerente da 'Segurelha' tenta explicar e até dá a provar. Alguns clientes aderem, outros franzem o nariz e jogam pelo seguro que, no caso, é o prato de carne. Nas estatísticas do restaurante, a carne ganha todos os dias à hora de almoço. "Se fizer as contas, em primeiro lugar sai a carne, depois o vegetariano (incluo nisso a sopa) e, por fim, o peixe. É quase mais difícil vender o peixe do que o vegetariano, mesmo quando é bom e saboroso. As únicas excepções são o bacalhau e a espada. Porquê? Penso que é uma questão cultural, não se consegue vender outro tipo de peixe". Irénio Teixeira, dono do restaurante vegetariano e macrobiótico Bioforma, tentou introduzir os pratos de peixe no menu diário, mas a recepção não foi boa. "Penso que as pessoas associam o restaurante a comida vegetariana e não gostaram de ver peixe na ementa. Temos um tipo de cliente que não é vegetariano, mas temos também aqueles que só comem este tipo de alimentação". O restaurante está quase sempre cheio à hora de almoço, embora o proprietário diga que os almoços caíram nos últimos meses. Crise? "É possível, toda a gente se queixa e nós não podemos baixar muitos preços se queremos apresentar refeições de qualidade e produtos de agricultura biológica".


No negócio - que inclui uma parte de venda de produtos homeopáticos e outra de mercearias macrobióticas e vegetarianas - esta foi a única parte onde se sentiu a quebra. No resto, a loja esteve bem e isso significa que, na Madeira, as pessoas procuram os produtos associados à comida vegetariana. Alguns por necessidade, como as pessoas que são intolerantes ao leite e optam pelo leite de soja e seus derivados, mas muitos porque apreciam e gostam de cozinhar em casa aquilo que comem ao almoço. Aliás, os livros com receitas vegetarianas têm muita procura na Bioforma.


A ideia que se faz de um adepto da comida vegetariana continua associada a um modo de vida alternativo, aos novos 'hippies' de roupas amplas e sandálias, mas o tipo de alimentação tem fãs até entre as crianças. Ao menos os alunos do Externato Adventista do Funchal - uma escola privada de 1º ciclo que recebe crianças de todos os credos religiosos - não se queixam dos pratos vegetarianos que lhes são servidos ao almoço. Segundo António Carvalho, director administrativo da escola, não são menos enérgicas do que as demais, as que só comem uma alimentação tradicional.


A opção pela comida vegetariana tem uma grande força no movimento adventista internacional e, por cá, o Externato entendeu servir este tipo de dieta no refeitório da escola. Os resultados são positivos e o director administrativo explica que é mais fácil educar o gosto de uma criança do que o de um adulto. Por outro lado, os pratos que se servem não são assim tão estranhos, não é apenas soja, seitam e tofu (derivados de soja). "Uma parte dos alimentos são conhecidos das crianças porque já comem batatas, arroz, massa, grão, feijão e vegetais em casa".


É claro que, na escola, o toque é diferente, as receitas são outras, mas isso não complica, apenas a ajuda. "Devo dizer que nem todos os alunos comem na escola, alguns trazem o almoço de casa. A maioria também não é vegetariana, apenas faz este almoço na escola. Em casa, de manhã e à noite, têm a alimentação dos pais. E também é verdade que os pais, quando são informados dos almoços vegetarianos, fazem muitas perguntas, mas depois percebem e aceitam bem". A prova é de que as crianças do Externato são animadas, brincam e praticam desporto. E, além disso, não choram porque têm de comer sopa ao jantar.

Marta Caires

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